quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Torcer ou não o pepino?

Texto de Gerso Colombo, escritor

“É de pequeno que se torce o pepino”. Meus pais acreditavam nesse ditado e não davam folga. Na nossa casa havia limites para muitas coisas e esses limites acabavam se transferindo para a rua e para a nossa relação com as pessoas, principalmente para os mais velhos, para professores, para autoridades, enfim, para quem não fosse moleque como nós. Havia outros ditos que eles também preconizavam, como: “Quem diz a verdade não merece castigo” ou “Se não for seu, não mexa, não pegue”. Meus irmãos e eu aprendemos. Acho que funcionou, ao menos, que eu saiba, nenhum de nós restou traumatizado. Victor Hugo diz, em Os Miseráveis: “O crime do homem nasce na ociosidade da criança”. É duro, mas é real. Na atualidade, os problemas sociais em que jovens estejam envolvidos, grande parte tem origem na falta de controle por parte dos pais ainda na fase infantil. Limites flexíveis ou não impostos por pais e mães agravam a instabilidade, por si só já difícil, da adolescência.

A Constituição de 1988 tende a ser liberal por força do período de exceção que a antecedeu, isso se compreende. E compreende-se, também, que essa liberalidade acabe transferindo-se para as relações sociais, a família aí incluída. Mas, a euforia já passou minha gente. Nenhuma liberdade pode ser desmedida sob pena de contaminar a sociedade com um “tudo pode” que é mais pernicioso que a falta de liberdade, pois acaba em libertinagem. Aristóteles acreditava que Democracia em excesso tende a Anarquia. Tomara que não! Muitas famílias, empenhadas na sagrada luta pelo “pão de casa dia”, transferem para a escola uma obrigação que é sua: educar sua prole. Com isso, querem criar uma nova alternativa pedagógica: a terceirização da educação familiar. Ora, escola não é creche para adolescentes. Professores não têm liberdade de impor limites a filhos que não são seus. E há liberdades que não podem ser toleradas. Crianças precisam, sim, de liberdade a fim de que descubram por si o mundo, mas há de ser liberdade vigiada. Um olho no gato, e outro olho no peixe. Crianças abandonadas a si mesmas, ou sem limites, engolem moedas, tomam veneno, tocam fogo na casa... E, quando crescem, não respeitam nada; quando não se atiram no mundo do crime e das drogas. Pais ausentes deixam vaga para os concorrentes. Depois, só resta chorar e dizer que seu filho era bom menino, mas envolveu-se com más companhias. Por isso, é sempre preferível dizer um “não” doloroso na infância que chorar a dura realidade de uma adolescência sem freios e socialmente deformada.


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